O primeiro email

Querido Pe João,

Resolvi dizer-lhe sobre o que se trata os "sérios problemas espirituais" que falei no skype. Desde que engravidei retornaram as lembranças repelidas de um trauma.
Fui abusada sexualmente pelo meu pai e pelo meu irmão. Eu tinha a ilusão de ter dominado o sofrimento.

Cessaram os abusos (físicos) quando eu tinha 12 anos. Exatamente quando Nicole (7 anos) me falou que o hóspede dos meus pais estava "mexendo" nela. O mesmo, também estava me abusando, petrificada, eu apenas permitia. Porém, ao saber que Nicole estava sofrendo, veio uma força dentro de mim e tive coragem e denunciei para mamãe, e aproveitei a coragem e falei dos outros dois (pai e irmão).

O pai negou sem fazer muito esforço e irmão pediu perdão, não para mim, mas para a mamãe (ele tinha medo da surra) e a mãe me condenou como culpada, que eu não falei antes porque gostava. O hospede continuou hospede e com isto teve acesso a Nicole novamente.

A partir deste ponto começaram o terrorismo psicológico:
i - a mãe me desprezava, me batia por qualquer motivo, não cuidava de mim quando eu fiquei doente (tive pneumonia e outra vez estava com dor de dente). Eu suplicava o carinho dela, fazia tudo que ela gostava.
ii - o pai tentava se aproximar com carinhos, elogios, me defendia da mãe e dava presentinhos escondidos. Eu não falava com ele, desprezava-o.
iii - o irmão começou com o constrangimento (abuso) verbal e visual. Ele tentava me conquistar para um relacionamento, fazia elogios, tentava seduzir. A casa de madeira cheia de falhas na parede permitiam que ele me vigiasse tirando a roupa e no banheiro eu tomando banho. Teve uma noite, eu tinha 15-16 anos, fugi com a Nicole pela janela, pois estávamos sozinhas com ele e ele tentou me agarrar.

Foi a última vez que ele tentou me seduzir, me agarrar, me tocar. Falei para os meus outros irmãos. Falei para minha mãe também, ela castigou ele. E para mim, nenhum gesto de carinho ou palavra amiga. Neste momento eu criei um ódio dela, cansei de querer amor, e comecei a ser rebelde, quando ela me batia eu não chorava, e  ela me batia mais.

Os estudos foram meus amigos, me refugiei nos livros, na História, Geografia, Biologia, me escondi nos sonhos e fantasias de jovem solitária.

Foto: pt.depositphotos.com
A mamãe sabia o que eu mais temia e sofria, então ela usava isto para me machucar: ela deixava eu (e a Nicole) em casa sozinhas com nosso irmão. Ela viajava com o papai para o sitio e ficava durante dias. Foi assim que o

(vou concluir este email amanhã ...)

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