Minha intenção

Querido Pe. João,

Como vai o senhor? Desculpe-me, eu não tenho perguntado nos últimos emails.

Foto: designtaxi.com
A cabeça da gente é uma maquina! Estou lembrando intensamente dos fatos, e fico atrapalhada para descrevê-los. Tenho que ser mais resumida para o senhor. Talvez, de uma outra forma vou continuar lembrando e escrevendo, mesmo que seja somente para mim, pois sinto-me melhor.

O fato é que estou ansiosa para que o senhor saiba as minhas reais intenções. Na minha narrativa, de ordem cronológica, pulei alguns fatos repugnantes (de natureza relacional com minha mãe) pois a minha intenção aqui não é destruir definitivamente a imagem dos meus pais, nem para mim nem para o senhor.


Eu quero me curar, e o caminho é admitir o que aconteceu, lembrando dos fatos, falar para alguém, como o senhor e finalmente destruir completamente o verdadeiro inimigo, que reside paradoxalmente dentro de mim: a minha determinação de permanecer no sofrimento, que me impede de REviver bem.

Foi a primeira vez, em toda minha vida, que procurei na internet ler sobre o assunto. Então encontrei de primeira o livro da Márcia Longo, de Minas Gerais, que relata seu sofrimento em lembranças pontuais e as descreve de modo explicito e até grosseiro. Foi chocante para mim, mas foi como se eu estivesse me acordando para minha realidade. E o mais importante desta leitura foi o relato do relacionamento da autora e vitima com a mãe.

Como falei anteriormente, foi na gravidez que comecei a lembrar intensamente, ..., mas eu sufoquei, lutei para esquecer, um duelo desigual, pois já não estava no inconsciente, mas lutei, e depois de tantos meses não segurei mais, me entreguei para as lembranças. Falar deste trauma, tomar consciência da verdade foi um choque terrível, admitir a violação do meu corpo e alma, neste momento tão especial da minha vida, a gravidez e amamentação do meu filho, foi mais um motivo de sofrimento e sentido de injustiça.

O segundo texto que li na internet sobre o assunto foi do site www.relation-aide.com, dos psicoterapeutas Jacques e Claire Poujol, com larga experiência no tratamento de casos como o meu, com livros publicados, palestras, artigos científicos. Depois que eu li o primeiro artigo, nunca mais me senti culpada, não carrego mais dentro de mim a Maria Flor criança, abusada, humilhada, sem defesa, envergonhada, culpada e acima de tudo sozinha. Esta mesma "criança" foi ouvida por meu consciente que hoje tem INFORMAÇÃO* para orientá-la nos mais difíceis aspectos do trauma vivido.

* perdoe-me pelas letras grandes, mas a ênfase tinha que ser dada

(continuo em A surra)
 

Comentários

  1. A gravidez é um momento mesmo, intensamentente crucial na nossa existência, querida e linda Maria Flor, é quando todos nossos hormônios estao em pleno vapor e ebulicao. É normal que todos os sentimentos surjam de uma vez e de forma mt pesada, forte sobre nós. As pessoas podem até sofrer nos vendo tao confusas, mas quem mais sofre mesmo somos nós, as grávidas.

    Vai ficar tudo bem. Mt gente, mt gente mesmo passou por isso.

    O mais importante, vc está fazendo e já fez: falou e continua falando. A libertacao vem daí. Continue firme e forte e pense sempre no seu filho. E na sua vida, o quanto de beleza vc tem em volta.

    Forca Maria Flor!

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    1. Muitissimo obrigada pelo comentario, foi o primeiro, grande estimulo.
      A experiencia da gravidez foi para mim foi muito maior do que eu podia esperava. Fui abencoada com um filho amado, meu casamento se consolidou nesta etapa, e recebi a porta para a libertacao de tanta dor escondida. Deus eh fiel.

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