(continuo ...)
Quando
comecei a trabalhar (17 anos), guardava dinheiro para pagar passagens
de ônibus minha e da Maria para irmos dormir na casa de uma tia quando
meus pais viajavam e nos deixavam sozinhas com o meu irmão. Ele não parecia
ameaçador, mas eu tinha medo. Os outros irmãos não moravam mais em casa,
se casaram.
Quando entrei na faculdade eu estava com 19 anos e já fazia exigências: ela tinha que me avisar quando
viajariam, pois assim eu nem voltaria para casa, eu iria direto para a tia. Ela até avisava "às vezes", mas às vezes não avisava e eu chegava à casa cansada e tinha a "terrível surpresa". Eu entrava em pânico, eu tinha pavor do irmão tentar de novo.
Este
duelo entre eu e a mãe durou até a faculdade terminar. Dois meses
depois da minha formatura fui para Florianopolis para fazer o Mestrado,
conquistado com muita luta, pois representaria a minha tão sonhada
liberdade daquela família incestuosa e negligente.
Os
três primeiros meses foram duríssimos, a depressão me sufocava, eu
estava sozinha, a escuridão dos dias frios me oprimia. Entretanto, o
meu amor pelos estudos e a felicidade de estudar numa universidade
moderna e cheia de recursos me davam força diariamente para continuar.
Sonhei
com o momento de sair de casa e morar longe “deles”, e Florianopolis
representava isto, entretanto eu não tinha suporte psicológico para a
independência definitiva. Eu era perseguida pela ambivalência de sentir raiva e saudade da família.
Retornei muitas vezes para Manaus.
O tratamento familiar era outro, ganhei respeito, e isto me dava à ilusão de equilíbrio. Eu estava feliz, com a família orgulhosa de mim.
Depois de dois anos (março/2003) voltei para Manaus e fui dar aulas na universidade.
Eu adorava o que fazia, porém sofri a mais severa e longa
crise de pânico. Foram meses. Os meus pais ficaram solidários ao meu
problema. A mãe me acompanhava por todos os lugares (médicos,
psiquiatra, acupuntura, igreja e na universidade para eu dar aulas).
Neste momento da minha vida eu já havia enterrado o meu passado completamente, o relacionamento familiar era muito perto do normal. Porém a aparente "paz" não durou muito tempo.
(continuo ...)
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