Observar as crianças

Nós tínhamos uma vizinha que teve gêmeos, um menino e uma menina. Nós tínhamos bom relacionamento com esta vizinha, frequentávamos a casa dela e os gêmeos e outros filhos mais velhos frequentavam nossa casa porque tínhamos um quintal enorme, com árvores e balanços.

Quando os gêmeos nasceram eu tinha uns 16 anos, e eu adorava ajudar a cuidar dos bebês, eu já demonstrava um instinto maternal, adorava imaginar que um dia seria mãe, e desde aquele momento da minha juventude eu desejava ardentemente ter a oportunidade de ser mãe para de alguma forma corrigir o erro do abandono em que fui submetida.

Os gêmeos cresceram e estavam com 3 anos e meio, eu acho, quando eu e a minha mãe ouvimos uma conversa de vozes de crianças, risos, gemidinhos até. Nossa casa era de madeira, dava para ouvir qualquer coisa que vinha do jardim, as janelas estavam abertas, era horário de meio dia, um silêncio, nós mesmos estávamos deitados descansando.

Olhamos, eu  e minha mãe, pela brecha que ficava entre duas madeira no assoalho (entende?). Estavam lá os gêmeos e o primo Coringa que na época deveria ter 6-7 anos, não sei pois eu não conhecia ele muito bem. O gêmeos estavam nus, a menina estava abrindo suas partes e pedindo que fosse a vez dela, e o Coringa estava em cima do menino fazendo um gesto idêntico ao de sexo anal.

Eu fico nervosa só de lembrar, acreditem, meu pescoço fica rígido, sinto frieza nos pés e nas mãos, meus braços tremem ao digitar, sinto vontade de chorar.

Nem fazia muito tempo que eu tinha sofrido abuso, que estava vendo as crianças que eu gostava de imaginar que fossem meus filhos, naquela situação, foi chocante, ainda é.

Eu fiquei paralisada e foi minha mãe que desceu lá, no porão da casa e os ordenou para se vestirem, e que ela os levariam para casa dos seus pais.
Ela disse que falou para a mãe dos gêmeos, que também é tia do Coringa, o ocorrido, e a mulher não teve nenhuma reação, ficou chocada, mas disse que não ia deixar seus filhos brincarem nunca mais com o primo.
Porém, não foi o que aconteceu, nós víamos eles brincando, não mais no nosso jardim, mas na casa deles mesmos. A providencia não foi tomada.

Google Imagens

Dias antes de vermos aquela cena o menino disse que sentia uma dor no bumbum, nós dissemos para a mãe dele, ela trabalhava e pediu para minha mãe levá-lo ao posto de saúde. Minha mãe levou-o e a pediatra disse que não estava vendo nada aparente, mas disse para OBSERVAR a criança. Talvez esta pediatra insinuou algo para minha mãe ...

Vejam como os sinais são dados, o difícil é interpretá-los quando não se tem experiência.
Vamos todos olhar a nossa volta e tentar descobrir se tem algo acontecendo com nossas crianças, se aconteceu algo no passado com nossos filhos, sobrinhos, alunos.

Vou visitar um castelo neste final de semana, preciso sair desta sintonia maléfica.
Bom fim de semana.
Flor.

Comentários

  1. Oi, Maria Flor!

    Eu fui criada na roça, onde menino não ficava sozinho com menina, onde as garotas deveriam ter compostura. Tudo severo...
    Eu já era noiva quando conheci "esta tal" pedofilia. Imaginava ser uma coisa rara.
    Hoje não posso dizer se na roça não havia, ou se tivemos muita sorte, eu e as crianças com quem convivi.
    Estarei atenta.

    Um abraço.

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  2. olá essa ´´e a primeira vez que vizito um blog deste tipo eestou muito emocionada,fui abusada na minha infancia e nunca,mais nunca contei isso nem mesmo para mim.e isso me deixa muito triste,e ja fazem mais de 20 anos e nao consigo esquecer,ultimamente andei procurando ele na internet mais nao encontro,desejo de vinganca e constante,mais nao sei se teria coragem de ficar cara a cara com ele,o medo corroe agente de tal forma,que vc nao consegue chegar tao proximo,tenho varias formas de perguntar a familia dele,afinal eu conheco todo mundo ,,mais me falta forca,tenho vontade de ameaca-lo anonimamente,so pra ver a reacao do infeliz...MEDO,TRISTE,sei que encontrarei algum conforto aki sei lá.um abraco

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  3. Vou te chamar de Alice, posso?
    Alice, eu não sei se voce notou, mas os textos que eu escrevi no mês de março de 2013, seguindo abril, maio, tem uma sequencia, eu te oriento lê-los assim: os primeiros estão de baixo para cima. Eu escrevi um primeiro email para um padre que eu conhecia, depois escrevi outro email, depois outro, e durante esse tempo que eu escrevia eu lembrava, relembrava, chorava, sofria, mas sentia um certo alívio. Ler sobre o assunto também me fez sentir melhor, as vezes não, pois tem coisas que realmente não ajudam. Por que é importante ler os textos de forma sequencial? assim voce poderá notar o "meu" desenvolvimento emocional. Voce tambem consegue, voce pode escrever emails para voce mesma, faz de conta que esta escrevendo para "alguem" e conta para si própria como tudo ocorreu, mesmo voce sabendo como foi tudo, mas quando a gente ESCREVE tudo sai da gente e passa a "acontecer" ali naquele email, e não dentro da gente.
    Ele não vai ficar impune, ele não está impune, acredite!
    Somente quando voce se sentir mulher, e não aquela Alice abusada, desinformada, criança; ai então voce vai poder COBRAR deste homem o que ele te fez; e voce não terá mais medo, ele sim vai ter medo, pois ha vinte anos atrás tudo era favorável para os abusadores sexuais, hoje não.
    Abraço,
    Maria

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  4. tudo bem Maria flor,apartir de hj serei Alice,e vc acertou em cheio pois esse é o nome da minha mae.e quando abri essa pagina que vi que alguem leu meu comentario,se abriu um choro que nao sei de onde veio,e li e relie por diversas vezes sem acreditar que algun dia ia conseguir falar algo a respeito.MUITO obrigada pela atencao,Deus abencoe vc sempre(nao consigo parar de chorar)....
    Ainda estou perdida no site,nao encontrei um lugar especifico pra debafar,soltar isso pra fora,nem havia observado nada,essa madrugada eu estava me lembrando de tudo o que aconteceu,parece que foi ontem.Tem dias que as lembrancas surgem do nada,e queria falar a qualqwer custo.. ,vou tentar fazer um perfil
    Um forte abraco
    Alice ,vou tentar fazer um perfil

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  5. Bom dia Alice ;-)
    No google.com.br voce pode entrar no Blogger, que é um produto gratuito e fazer seu próprio blog, e escrever assim como eu, anonimamente, por atrás de um nome fictício ou mais simples ainda escrever emails em seu próprio email, voce tem um?
    Alice, não desista de colocar isso para fora de voce, ouça voce mesma, hoje voce é adulta, ..., olhe uma menina que tenha a sua idade quando voce estava sendo abusada, veja a fragilidade, a inocência, a alegria que toda criança tem, e acredite que voce também era especial com qualquer outra criança que voce vê hoje. Alguém deixou de te proteger, seus pais, sua professora, sua babá, ..., voce tem que prestar contas com essa ou essas pessoas, é importante também. Eu fiz isso com a minha mãe, pois foi ela que me colocou no total abandono, eu não sei se consigo perdoá-la, pois ela não se sente culpada e dar de ombros sempre que falo ou cobro dela.
    Alice, vomita estas lembranças, chora, fica com raiva, grita, odeia até, ..., e depois, não vai demorar para voce se sentir finalmente uma mulher, voce vai deixar de ser criança, ..., voce ainda não se conhece como mulher. Os sentimentos negativos que o abuso causa não nos permite crescer, continuamos a mesma menina abusada mesmo se alcançarmos 90 anos.
    Escreva se precisar,
    Maria

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  6. #Querida Flor,primeiro quero te parabenizar pelo seu blog,realmente depois de seguir sua orientacao de ler seus"emails"na sequencia me sinto um pouco aliviada,e entristecida,pois voce sofreu muito.
    Acabei descobrindo que mesmo com 30 anos de idade hj ainda sou aquela menina,que foi abusada a ah mais de 20 ou 25 anos,pois a mente me bloqueou de varias coisas,e muitas coisas da minha infancia nao me recordo mesmo!!acho que é uma defesa do cerebro,ou melhor uma ajuda Divina pra nos causar menos sofrimentos.Vc é a primeira pessoa que revelo essa historia,sou casada hj,mais nem para meu marido eu consigo falar.Nunca recebi ajuda de ninguem,nunca procurei ajuda psicologica,nada,apenas eu e minhas lembrancas que parecem adormecer por um tempo,mais que quando acorda,vem faminta devorando seu dias seu sono,seu sonhos viram pesadelos,e ate a mais perfeita distracao se torna sofrimento.
    Nao sei se posso mais desejo contar a minha historia aqui mesmo no seu blog,eu tenho email sim,mais aqui me parece mais interessante,estou me preparando pra isso,tenho varias sequelas do abuso,sao varias,apesar de nao ter sido muitos abusos como os seus mais me feriu profundamente. ▼um forte abraço

    ♥Alice(nome que vc me deu rsrsr)

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  7. Cara Alice,

    Primeiramente que o abuso sexual sobre uma criança é violentamente destruidor, mesmo que tenha sido uma única vez e por apenas alguns minutos. O abuso sexual é caracterizado por seu grau de intensidade, frequencia, mas também pela forma de abordagem que pode ser direta ou MESMO indireta como exemplo o abuso visual, a criança não é tocada mas é visualmente desejada, constrangida, humilhada. Abuso estes ao qual fui submetida TAMBÉM.
    Voce pode sim escrever sua história que eu coloco aqui neste blog. Voce pode fazer um NOVO email com esse nome Alice, e escrever para meu email retalhosflorais@gmail.com. Perdoe-me, mas até meu email não é meu email particular pois eu realmente preciso me sentir anônima em todos os aspectos, mas quero ajudar no que for preciso.
    Eu quero te ajudar, eu quero me ajudar. Se voce percebeu a apresentação deste blog foi escrita em 2011, depois eu abandonei completamente, somente agora em 2013, em março, foi que eu tive a coragem de iniciar a escrever os textos, pois somente agora eu me senti forte para enfrentar isso.
    Foi em 2010 que escrevi para o padre e 2011 eu fiz a reunião com meus pais e irmão, sofri um bocado depois, a vida seguiu em frente, ..., mas eu já era outra. Eu achava inútil escrever para outras pessoas lerem, talvez ninguém ia ler, talvez eu ficasse deprimida ao relembrar, e até fico quando escrevo, mas é só naquele momento pois de tanto escrever meu coração e minha mente já esta "treinada" para: lembrar-chorar-sofrer-valorizar-os-avanços-respirar-aliviada. Coloquei tudo junto porque é assim mesmo que sinto, como uma sequencia restauradora.
    Sorria Alice, voce esta se curando! Voce mesma buscou na internet o assunto, voce abriu a porta. Se quiser desistir como um dia eu quis e fiz, não se recrimine, se dê um tempo, e voce vai ver que a hora vai chegar.
    Voce me emociona quando escreve.
    Obrigada, abraços
    Maria Flor

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