Perdoar é possível

Eu, meu esposo e nosso filho estamos de férias na Europa.
Meus pais decidiram visitar minha irmã que mora na França, a Nicole. Ela teve mais outro bebezinho, que tem agora uns 3 meses. Compramos todos passagens aéreas para Paris, depois de alguns dias de turismo em Paris, pegamos um avião para Holanda e eles pegaram avião para o sul da França.

Meu pai é doente dos nervos, tem medo de avião, tem medo de ficar longe da mamãe, parece uma síndrome do pânico, não sei bem o que é, mas ele fica bem transtornado quando tem crises, que são raras, mas assustadoras. Enfim, mesmo com todo esse problema ele conseguiu superar a ansiedade e fez a viagem.
Era a minha viagem de ferias com meu esposo e filho, era para estarmos sozinhos curtindo, mas eles nos pediram ajuda, por medo de não falar inglês na migração. Então fomos todo juntos, como uma família feliz.

Rimos na sala de embarque de Manaus, conversamos, tiramos fotos. A escala em São Paulo foi muito rápido, nem deu para meu pai lembrar do nervoso. Quando meu pai estava entrando no avião eu senti uma vontade de abraçá-lo e parabenizá-lo pela conquista,  eu estava perto dele e nao resisti, dei um abraço de lado, sabe como? e disse parabéns, ele sorriu.

Eu que tenho sofrido com sindrome do pânico entendo o quanto ele estava se superando de algo "gigante", o medo de voar. Nesta hora eu lembrei do que ele representa para mim além de pai, ..., meu agressor. Porém eu me sentia tão livre do sentimento de raiva ou ódio, ..., seria o resultado do desabafo no blog, seria a tentativa de esquecer, ou o próprio tempo que curou, não sei, mas senti que perdoar é possível.

Foto: telegraph.co.uk 
No vôo foi mais legal ainda, ficamos todos proximos, ajudei-os em tudo. Nos divertimos mais ainda fazendo passeio, compras, jantando por alguns dias em Paris. Minha mãe agradeceu bastante, estava emocionada, feliz. 

A minha irmã não sabe que este blog existe, e agora que ela esta recebendo nossos pais na casa dela seria desastroso se soubesse. Ela nem queria que meu pai fosse, ela não consegue esconder que não confia nele. Ela se comunica bem com nossa mãe, até gosta muito dela, mas ela sabia que só receberia a visita dela se o papai fosse de brinde, e ela teve que ceder.

Quando eles voltarem para o Brasil vou falar para ela do blog, ..., nem sei se ela vai ler, ela foge de tudo que tem este assunto. 

Comentários

  1. Oi Maria Flor!
    Acabo de ler todo o seu blog.
    Sou professora de criancinhas de 6,7, 8 anos e este tema me preocupa muito.
    Trabalho a mais de 20 anos com crianças, e posso ter tido alunos que sofriam abuso e não consegui detectar (espero que não).
    O grau intenso de sofrimento, e a falta de culpabilidade do agressor podem ser amenizados com informação.
    Seu blog pode auxiliar muitas pessoas (até crianças) nesse sentido. A "arma informação" pode levá-los a pedir ajuda externa, visto que "na teia familiar" é demasiado difícil.

    Um abraço.

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    1. Obrigada por escrever Cristina!
      Quando eu tinha a idade de seus alunos eu estudava na escolinha normal e frequentava escolinha de artes 3 vezes na semana. Eu tambem iparticipava do coral da igreja, isto é, tinha convivio social, e mesmo assim eu não tinha nenhum estimulo dentro de mim para denunciarm, e não me lembro de ter tentado. Era nos anos 80, não se falava de pedofilia como se fala hoje, as crianças de hoje ao menos sabem o que é errado. Lembro que minha letra era terrivelmente feia, a professora de portugues se admirou tanto e perguntou se estava acontecendo algo: juro que a denuncia ficou na garganta, mas respirei e não disse nada, eu já estava com 13-14 anos. Foi o mais perto que estive de uma denuncia.
      Vou escrever mais e mais, descrever como era o meu mundo, pois eu me recordo de tudo, dos sentimentos, medos, talvez voce possa entender uma crianca que esteja passando por esta cruz. Eu mesma tento ver em minhas sobrinhas algum sinal.
      Voce alegrou meu domingo, obrigada.
      Abracos

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  2. Oi Cristina, escrevi um post pensando em voce, pensando em colaborar com voce que é psicopedagoga. É o último que publiquei.
    Uma brincadeira inocente de criança pode se transformar em um trauma para uma vida inteira.
    Leia por favor,
    Abraços,
    Maria

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  3. Acho que a lembranca nunca se apaga e essa é a parte desagradavel da historia, mas perdoar é sim possivel, vc está, creio eu, no caminho certo. Sua irma precisa de mt tempo ainda pra entender tudo o que houve com ela... talvez esses dias com os pais ajude-a a elaborar melhor as coisas na cabeca, ela deve guardar tantas magoas, tadinha :-( mas encarar tudo isso de novo, ou seja, falar sobre o assunto, deve ser mt angustiante...

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