Denuncia anonima, ajuda incalculavel

Recebi um comentário de uma estudante de Pedagogia, de forma anônima, que sofreu abuso na infância.
Esta postagem é para você cara estudante! Você e sua historia continuarão anônimas.
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Eu não sei exatamente como te ajudar, mas conheço o seu sofrimento, mesmo sem te conhecer. Eu sei o que é olhar para a própria mãe e não encontrar o verdadeiro sentimento maternal, sentimento de proteção, de doação, de confiança. E ao lado deste vazio ter o sentimento de revolta e cobrança.
Conheço o seu desamparo, sua solidão dentro destas lembranças, sua incapacidade de ASSUMIR a sua condição de abusada sexualmente na infância ou adolescência.
O meu primeiro passo foi ASSUMIR, parar de fugir desta realidade, enfrentar, falar comigo mesma sobre isto, ser ouvida por alguém. Eu fugi o quanto pude, mas quando fiquei gravida tudo mudou. A gravidez sendo um evento natural e intenso me empurrou para dentro das recordações mais dolorosas. Atormentada, tentei abafar as lembranças mas nada do que eu fazia afastavas os pesadelos, as recordações. Foi assim comigo, foi na gravidez que eu consegui sair da condição de criança abusada para a condição  de uma adulta que foi abusada. Ao escrever, recordar, assumir, eu estava me afastando cada vez mais dos dias de abuso, e finalmente sendo a mulher que a vida me permitiu ser.
Confesso que tem dias que fico triste pois as consequências do abuso ainda atrapalham minha vida, mas cada dia que passa, cada postagem que eu escrevo, e o retorno que recebo das pessoas que acessam este blog me amadurece, me alegra. E eu consigo acreditar que posso ajudar outras pessoas, e se eu posso ajudar é porque eu não sou mais aquela criança indefesa, mas uma mulher forte que faz da sua própria experiência dolorosa instrumento de ajuda.
Antes da gravidez, do blog, antes de assumir minha historia eu não era capaz de ajudar ninguém que estivesse passando por isto, seria assustador para mim eu fugiria, teria um medo imensurável, pois eu seria uma "menina" ainda.
As pessoas em geral não acreditam nas crianças, as professoras, os pais, os padres ou pastores, pedagogos, ..., e se acreditam simplesmente não gostam de se meter neste caso pois é caso de policia, caso de desestruturação familiar, e principalmente pelo fato de ser uma CRIANÇA o denunciante abre o precedente de que esta pode estar inventando ou mentindo, mesmo que seja a mais pura verdade a denuncia.
Você realmente NÃO pode ajudar uma criança que se encontra nesta situação, mas pode sim não ser omissa. Hoje, cada cidade tem em sua prefeitura ou policia civil uma divisão para tratar desses casos, fazer uma denuncia anônima com riqueza de detalhes dos quais a criança relatou, dará a denuncia consistência para as autoridades (delegado, conselheiro tutelar) investigarem.
Imagine que eu denunciei pela primeira vez somente depois de ter passado 8 anos, e foi para minha mãe. Mesmo sem merecer a minha confiança, foi para ela que eu relatei. Eu estudava em colégio de freiras, passava ferias na casa de tias carinhosas e atenciosas, tinha contato com primas mais velhas que eu, ..., mas foi para minha mãe que falei, e ela era uma mãe péssima.
E o pior dos traumas foi descobrir o caráter da minha mãe perante a minha denuncia, pois eu não estava só denunciando os abusos (1o. crime) mas a negligência dela (2o. crime). Eu estava denunciando para o próprio "bandido". E ela se protegeu fazendo eu acreditar que eu era a culpada, a safada (palavras dela).
Somente agora, ao escrever esta postagem eu realizei que minha mãe foi mal caráter, criminosa, e me massacrou para proteger-se a si e a família que ela constituiu. E ela conseguiu me enganar todos estes anos, fazendo chantagens emocionais. Ela vive indo para igreja, reza todos os dias e se diz uma mulher de Deus, e acima de tudo justa e correta.
Hipocrisia? 
Defesa?
Loucura?
Sagacidade?
Somente perdoando em nome de Deus é que posso ainda olhar para ela e ter a misericórdia ensinada por Deus.
Todos merecem uma segunda chance, e eu estou dando a ela, ao meu pai ao meu irmão.
Para todas meninas que um dia foram abusadas assim como eu, um abraço fraterno no amor do nosso Deus, que é Pai e nunca não nos deixa órfão.
Maria Flor

Comentários

  1. Texto emocionante, fez chorar...
    Felizmente nunca passei por nada parecido e sempre tive uma família estável e feliz. O facto de sempre ter tido tudo tornou-me uma pessoa muito preocupada com quem nao teve a mesma sorte que eu.
    Sei que não posso saber pelo que passou, nem imaginar sequer mas posso adorar a sua força e no facto de ter-se tornado num óptimo ser humano mesmo tendo tantas adversidades na vida.
    Acho que é preciso alertar as pessoas de que é preciso olhar-mos para o lado e ajudar.
    Sei um testemunho daqui de onde estudo que um rapaz de 16 anos se suicidou porque era abusado em casa e na escola era gozado.
    Infelizmente ainda continua a existir muito menosprezo também em escolas. Pior do que se sentir invisível foi a dor e a mágoa que a visibilidade lhe deu...
    Espero que a sua vida agora seja repleta de vida, de amor e encarar o passado como uma experiência que agora pode ser usada como dádiva para outros que estão em situação semelhante.
    Deus caminhará sempre ao vosso lado é certo!! A igreja não é Deus e faz muito de errado, por isso não sigo o caminho da igreja apenas o caminho de Deus. Se algum dia se dispuserem a perdoar não se esqueçam "Perdoar não significa esquecer, significa largar o pescoço da outra pessoa."
    Beijinho grande nos vossos corações.
    Saudações de Lisboa (Portugal)

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  2. M.
    Foi voce que me fez chorar ao acreditar que sou um ótimo ser humano :-). Obrigada mesmo!
    Obrigada pelos seus melhores votos, eu preciso de todos.
    As saudações de Lisboa chegaram com tanto calor humano.
    Daqui do Amazonas vos saudo com alegria.
    Maria Flor

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